Hoje estou de péssimo humor. Meu estado de espírito combina perfeitamente com o céu cinza lá fora e a temperatura gelada da chuva fina que cai.
Estou no final da manhã e já acho que tive um dia suficientemente ruim... seria ótimo dormir nesse momento e só acordar amanhã, assim ao menos eu teria certeza de que nada mais me irritaria.
Pra começar o dia, quando acordo minha mandíbula dói. Isso é sinal de que passei uma noite inquieta rangendo os dentes. Levanto da cama sonolenta e com vontade de permanecer nela, mas alguns diários de classe me obrigam a levantar rápido e sair nesse frio para entregá-los. Antes de sair verifico meus emails e tenho a certeza de que nada no mundo mudou, não recebi nenhuma notícia maravilhosa que salvaria meu dia. Nada disso. Só meia dúzia de propaganda e outra meia dúzia de piadas sem graça, mescladas a mensagens de feliz natal. Deletei todas antes mesmo de abrir pois tenho receio de quebrar meu computador se nesse momento eu ler alguma mensagem sobre comunhão, perdão, vida, esperança e todas as outras baboseiras do gênero.
Na saída de casa, chuto a porra da porta com uma violência que será lembrada pelo meu dedinho pelas próximas semanas. Por alguns segundos tenho pena de todas as gerações que xinguei e praguejei... só por alguns segundos. Hoje não tenho pena de ninguém, nem de mim mesma.
Quando recupero o fôlego e saio de casa, pego o maior congestionamento que a T-63 presenciou nos últimos tempos. Um congestionamento de tirar do sério até a Madre Teresa. Pra melhorar um pouco mais a situação, um sujeito nervosinho no carro detrás resolve meter a mão na buzina. Como se isso pudesse resolver alguma coisa. Hoje tenho impulsos assassinos e me controlo para não descer do carro e meter-lhe a mão na fuça. Conto até meio milhão, não resolvendo, canto como uma louca para fazer calar meus próprios pensamentos... ou pelo menos para que o tempo passe um pouco mais rápido.
Depois de muito, muito tempo chego à universidade. Resolvo olhar meu rosto no espelho retrovisor antes de descer e neste momento tenho a visão do inferno. Meu estado é deplorável. A umidade fez meus cabelos ficarem com a aparência de quem acabou de fazer uma viagem num carro conversível, o esmalte vermelho das unhas está pela metade, minhas olheiras estão imensas e minha pele está toda descascando por causa dos ácidos anti-envelhecimento. Que horror.
Tento ser otimista, pois neste período do ano quase não há ninguém na universidade, acho que ninguém vai me ver. Chego quase correndo na secretaria e quem está lá é minha chefe, e outras professoras numa conversa animada. Como alguém pode estar animada num dia como esse, a essa hora da manhã??? Entrego rápido o material, com a desculpa de um compromisso urgente e saio da sala odiando o que ainda resta de mim mesma.
Nesse momento tenho a única idéia razoável do dia: volte imediatamente pra casa e não saia da cama. As coisas sempre podem piorar... o dia só está começando.
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