Eu estava diante de um sapo, na verdade, um sapão gordo, grizalho, de bigode caído por cima da boca, cabelos desgrenhados e gotas de suor que escorriam insistentemente sobre a testa. Suas vestimentas não poderiam ser mais apropriadas para seu perfil: uma camisa amarela muuuuito amassada e com colarinho encardido, combinando com uma calça preta bastante descorada. Inegavelmente era uma figura desprevível e horripilante. Antes que me considerem preconceituosa, afirmo que sou sim preconceituosa, principalmente com esse tipo de homem prepotente e vulgar.
Enquanto ele se esparramava naquela cadeira que mal o cabia, eu me portava séria, calada e de pé em sua frente, aguardando-o terminar uma ligação telefônica. Terminado aquele telefonema, a verdadeira tortura começou: manter-me calma, integra, sob controle. Cada palavra que eu disse foi cuidadosamente calculada, medida e submetida ao mais rigoroso juiz: eu mesma. Sem dúvida alguma portei-me bem, digna de respeito. Não lhe xinguei, não gritei aos quatro cantos o quanto ele era injunsto e prepotende, não chorei diante de seu sorriso cínico e suas insinuações humilhantes. Não lhe enfiei a mão na cara, nem saí batendo a porta (isso era o mínimo que ele merecia). Não... apenas conservei o que resta de minha dignidade lhe proferindo um ríspido "boa tarde pro senhor", saindo rapidamente da sala antes que alguma lágrima caísse dos meus olhos, ou que alguém percebesse o tremor de minhas mãos.
Hoje rendo-me a Marx, este, mais atual do que nunca. O poder corrompe, e o proletariado, submetido aos mandos e desmandos da burguesia, despersonifica-se e torna-se coisa. O trabalhador não mais se reconhece no fruto de seu trabalho. O trabalhador sequer se reconhece como pertencente àquele contexto, é apenas objeto, uma peça da engrenagem e que, portanto, pode ser facilmente substituída... bastando, para isso, que não esteja funcionando bem.
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