domingo, 13 de janeiro de 2008

A filha do Griladão

Certas coisas só acontecem no Jardim América. Este bairro tem muitas peculiaridades e guarda histórias bem interessantes. Seus moradores (em sua maioria) ignoram o fato de este ser um dos maiores bairros da capital e conservam hábitos típicos das cidades de interior ou das antigas vilas. Aqui as pessoas ainda sentam nas calçadas e ficam batendo papo com os vizinhos, todos andam nas ruas e ignoram a existência de calçadas, obrigando os carros a desviarem das pessoas, têm tempo para conversar sobre a vida alheia e todo mundo conhece todo mundo. Andar a pé nessa região é sempre um convite ao espanto ou a minutos de boas risadas. Aqui, caminhar até a agência de correios que fica a 300 metros é ter a certeza de ser interrompida por alguma velha senhora que pergunta se sou filha de fulano ou se conheço siclano, afinal, "você é a cara dela"; ter que acenar para o frentista do posto de gasolina que dá tchau do outro lado da rua; ou ainda escutar do atendente da lanchonete (com quem eu NUNCA conversei mais do que "bom dia" e "obrigada") que faz tempo que ele não me vê passando por ali, será que eu mudei meu horário de trabalho, etc...
Já estou acostumada com esses acontecimentos, mas a vida no Jardim América é uma caixinha de surpresas, se é que posso plagiar aquele comediante. Ontem fui até a mercearia (coisa típica do Jardim América) para comprar mussarela. Ao passar no caixa pedi para anotar a compra (comprar fiado é uma das várias características interioranas ainda presentes por aqui):
- Você anota por favor na conta do... (não terminei de falar e fui interrompida pelo caixa, que eu nunca havia visto antes, ou pelo menos não me lembro...)
- Você é filha do professor, né? O griladão.
- Ãh, como? (e comecei a rir...) Griladão?
- O professor, o griladão. Ele é um cara muito griladão. Ele chega aqui sempre grilado, de cara feia, reclama com todo mundo, griladão. (Enquanto isso, o dono da mercearia olha com cara de poucos amigos para o atendente que, certamente, vai ouvir uma grande bronca ou ficar sem seu valioso emprego).
- Ah, sou eu sim, a filha do griladão. Você anota, por favor?

3 comentários:

Marcela disse...

Ai, Silvia... Esse post foi o máximo! Se vc é filha do "griladão", isso faz de vc e do seus irmãos os "griladinhos"??! Sei que essa lógica não se aplica à vc, mas até que dá certo pro seu irmão, não é mesmo? Rsrsrsrs
Estou adorando seu blog! Continue escrevendo bastante.
Beijos
=]

Marcela

Flávia disse...

KKKKKKK essa foi boa!

Flávia disse...

KKKKKKK essa foi boa!