segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

O dia em que meu corpo me derrotou

Depois de preparar cuidadosamente uma sacola com sanduiches de "jamón y queso", verificar água e chocolates, enquanto degustava um vinho nacional, estava pronta para dormir. Já eram 00:30 hs e sabia que tinha que estar pronta para partir com o grupo as 3:55 hs. As 3:15 hs acordei sonolenta, mas logo o sono foi substituido por uma grande euforia: eu iria subir o vulcao Villarica, um dos mais altos de Pucón - Chile, e ainda em atividade.
A van nos leva por um caminho longo e cheio de curvas, em direçao a base do vulcao. Todos estao calados. Ente nós (eu e Alexandre - brasileños) há também um noroeguês, americanos, alemaes, israelitas e os guias chilenos. A expectativa é grande em todos, principalmente em mim.
Ao chegar na base, calçamos as pesadas botas, recebemos um instrumento que se parece com uma picareta e nos reunimos em círculo para escutar as instruçoes dos guias... instruçoes em inglês. Que beleza, me sinto um ET. Depois das explicaçoes peço que repita tudo "em español para la chica brasileña".
Ok, começamos a subida em fila indiana. A terra por onde pisamos é totalmente diferente de tudo o que eu já vi. É areia vulcânia, escura, quase preta e muito pesada. A sensaçao é como se eu pisasse em uma areia muito fofa, mas grossa, atolando os pés até a altura dos tornozelos, com botas pesadíssimas, numa subida muito íngrime e deslizante. Subo 3 passos e escorrego 2. O ritmo é pesado, frenético, numa escuridao quase total.
Comecei a subida na parte inicial da fila. A mochila que carrego pesa cerca de 20 quilos, agora parece pesar 100. Depois de alguns minutos nao estou no início da fila, mas no meio, pouco depois estou ficando cada vez mais para trás. Me dou conta de que sou a segunda pessoa mais velha do grupo (o mais velho é o Alexandre), todos ali têm entre 19 e 23 anos, incluindo os guias. E todos praticam esportes!
Naquele momento percebi que estava fudida (com o perdao da palavra totalmente adequada!). As pernas começam a falhar, a boca fica seca e minha visao escurece por alguns segundos. Paro para tomar água. Um dos guias me auxilia, pede para que o siga "despacio pero constante, sin parar". Ele me lembra que temos mais 8 horas de passeio, sendo 5 de subida íngrime em terreno muito instável.
Continuo caminhando, devagar mas constante, atrás de Rubéns, meu guia e simpático anjo da guarda, descendente de um cacique mapuche. Mais algun s minutos e minhas pernas perdem quase totalmente a força. Vou cair. Minha mochila parece pesar ma tonelada. Respiro fundo, paro por alguns segundos e repito alto: o que é isso? Vamos lá? Coragem!!! Rubens acha engraçado e admira meu senso de humor, diz que é importante para chegar ao alto.
Tiro forças nao sei de onde e firmo o passo. Piso forte. Tenho que continuar a caminhada, afinal, logo o sol vai nascer e quanto mais alto eu subir, mais lindo será o espetáculo.
Depois de mais alguns minutos meu corpo se recusa a continuar. Páro para vomitar tudo o que existe e o que nao existe no meu estômago. Meu corpo nao aceita a caminhada. Rubens diz que essa é uma reaçao normal do organismo diante de um esforço físico extremo, para o qual ele nao está adaptado.
Minha vontade de vomitar e de desmaiar é imensa. Triste, pergunto o quanto andamos e quanto falta. Andamos menos de 15% do percurso e a subida final é ainda mais pesada. Quero chorar, mas estou passando muito mal para isso. Tenho que voltar. Nao consigo subir. Rubens desce comigo enquanto o resto do grupo segue em frente. Ele é um guia gente-boa e tenta me alegrar, brinca, diz que muitos nao conseguem , que isso é comum a quem nao pratica exercícios, espera o sol nascer comigo e depois me leva até a base.
As 9:00 hs já estou no quanrto do hotel. Triste, cansada, frustrada, 25000 pesos chilenos mais pobre (eles fizeram um desconto de 10000 pesos de consolo), e com a certeza de que tenho que praticar exercícios ou meu corpo continuará me derrotando.

Um comentário:

Flávia disse...

Nossa amiga, que "trilha" pesada! Eu já teria desistido antes mesmo de começar,pois 5 hs de subida íngreme, pra mim, é coisa para triatleta!
Parabéns pela coragem e pela tentativa! Ufa!